segunda-feira, 30 de julho de 2012

Livro - VERISSIMO


Concordo, o livro está caro, mas o cinema também está e a gasolina mais ainda. É cada vez mais econômico não sair de casa. E o livro leva nítida vantagem sobre todas as outras formas de divertimento caseiro. É melhor do que TV. É melhor do que conversar com a família. Você já sabe o que vai encontrar na TV. Também já sabe o que a família tem para dizer. Mas cada livro novo tem coisas novas para contar. É como um desconhecido que entra em sua casa cheio de novidades e de histórias. E você não precisa lhe oferecer nada. Um uisquezinho, uns salgadinhos... Nada.
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Vou exagerar: livro é melhor do que sexo. Você pode tomar o uísque antes, depois e durante a leitura. Livro nunca pede para apagar a luz - pelo contrário, exige que ela fique acesa. Quando você termina a leitura o livro não pergunta "Foi bom para você?". Livro nunca está com dor de cabeça.
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Ler é melhor do que ouvir música. Ouvir música é uma coisa passiva. Na leitura você participa. Segura o livro. Vira a página. Se preferir, pode molhar a ponta dos dedos para melhorar a aderência. Ao contrário da música, você pode, se quiser, começar a ler de trás para diante. Pode fazer anotações nas margens. Pode acariciar, cheirar, manipular o livro. Pode até mastigá-lo, por que não?
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Ler é melhor do que jogar carta. Livro não tem parceria nem adversário. Ler é melhor do que montar estante, trocar lâmpada ou qualquer outro afazer doméstico. Não há possibilidade de acidentes com livro, a não ser cortar o dedo na borda do papel, o que arde mas não mata.


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A superioridade do livro sobre a TV é indiscutível. Livro não tem comerciais. Você lê o livro que quer sem precisar impor sua vontade e disputar o controle remoto com o resto da família a tapas. E de madrugada, quando o livro está ficando bom, não entra um filme que você já viu dez vezes.
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E livro é muito melhor do que cinema. Você escolhe a melhor poltrona para sentar com seu livro sabendo que não haverá uma mulher atrás de você pedindo ao marido para explicar o enredo. E que não há a menor possibilidade de saltar um personagem armado do livro na sua frente e começar a disparar na sua direção.
 
ZERO HORA - 29/07/2012 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Livro, um alvará de soltura


Costumo brincar dizendo que, para conseguir ler todos os livros que me enviam, só se eu pegasse uma prisão perpétua. Pois é de estranhar que, habituada a fazer essa conexão entre isolamento e livros, tenha me passado despercebida a matéria que saiu recentemente nos jornais (da qual fui gentilmente alertada por uma leitora) de que os detentos de penitenciárias federais que se dedicarem à leitura de obras literárias, clássicas, científicas ou filosóficas poderão ter suas penas reduzidas. A cada publicação lida, a pena será diminuída em quatro dias, de acordo com a Portaria 276 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). No total, a redução poderá chegar a 48 dias em um ano, com a leitura de até 12 livros. Para provar que leu mesmo, o detento terá que elaborar uma resenha que será analisada por uma comissão de especialistas em assistência penitenciária.

A ideia é muito boa, então, por favor, não compliquem. Não exijam resenha (eles lá sabem o que é resenha?) nem nada assim inibidor. Peçam apenas que o sujeito, em poucas linhas, descreva o que sentiu ao ler o livro, se houve identificação com algum personagem, algo bem simples, só para confirmar a leitura. Não ameacem o pobre coitado com palavras difíceis, ou ele preferirá ficar encarcerado para sempre.

Há presos dentro e fora das cadeias. Muitos adolescentes estão presos à maquininhas tecnológicas que facilitam sua conexão com os amigos, mas não sua conexão consigo mesmo. Adultos estão presos às telenovelas e reality shows quando poderiam estar investindo seu tempo em algo muito mais libertador. Milhares de pessoas acreditam que ler é difícil, ler é chato, ler dá sono, e com isso atrasam seu desenvolvimento, atrofiam suas ideias, dão de comer a seus preconceitos, sem imaginar o quanto a leitura os libertaria dessa vida estreita.

Ler civiliza.

Essa boa notícia sobre atenuação de pena é praticamente uma metáfora. Leitura = liberdade. Não é preciso ser um criminoso para estar preso. O que não falta é gente confinada na ignorância, sem saber como escrever corretamente as palavras, como se vive em outras culturas, como deixar o pensamento voar. Um livro é um passaporte para um universo rico e irrestrito. O livro é a vista panorâmica que o presídio não tem, a viagem ao redor do mundo que o presídio impede. O livro transporta, transcende, tira você de onde você está.

Por receber uma quantidade inquietante de livros, e sem ter onde guardá-los todos, costumo fazer doações para escolas e bibliotecas com frequência. Poucos meses atrás doei alguns exemplares para um presídio do Rio de Janeiro, e sugiro que todas as pessoas que tenham livros servindo de enfeite em casa façam o mesmo. Que se cumpram as penas, mas que se deixe a imaginação solta.

MARTHA MEDEIROS - ZERO HORA, CADERNO DONNA.

De casa nova, de livro novo, de vida nova, novo mundo.
Estamos em novo endereço, na Rua Duque de Caxias, antigo CRAS, com ambiente todo remodelado para melhor atender nossos leitores, contando também agora com internet sem fio para aqueles que desejarem realizar pesquisas possam fazê-las.